Entendendo os Testes de Vazamento em Válvulas segundo a API 598

1. Introdução

A norma API 598 é uma referência amplamente adotada na indústria para a verificação de vazamentos e integridade mecânica de válvulas. Desenvolvida pelo American Petroleum Institute (API), essa norma não trata do projeto ou fabricação das válvulas, mas define os critérios de aceitação e métodos de teste para válvulas já prontas seja após fabricação, manutenção ou recondicionamento.

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Seu principal objetivo é assegurar que a válvula funcione de forma segura e eficaz, resistindo à pressão do processo e vedando adequadamente o fluido controlado, seja ele líquido ou gasoso. Em outras palavras, a API 598 determina como a válvula deve ser testada e inspecionada para garantir sua confiabilidade operacional.

Por isso, ela se aplica a diversos setores industriais, incluindo:

  • Óleo e Gás: Produção, refino e transporte.
  • Petroquímica: Onde fluidos agressivos exigem vedação confiável.
  • Saneamento e Energia: Onde o controle de vazamentos é vital para segurança e eficiência.

Além de padronizar os procedimentos, a API 598 permite que compradores, fabricantes e inspetores falem a mesma “linguagem técnica” na hora de aceitar ou rejeitar uma válvula.

🔎 Importante: A API 598 não é uma norma de projeto, ou seja, não dita como a válvula deve ser construída, e sim como ela deve ser testada — incluindo ensaios hidrostáticos, pneumáticos e inspeções visuais. Frequentemente, ela é usada em conjunto com normas de projeto como API 600, API 6D ou API 623.

Todas as válvulas industriais devem passar por testes rigorosos realizados pelo fabricante. O comprador pode também especificar testes adicionais conforme as exigências do processo, e inspeções periódicas são fundamentais para assegurar o desempenho contínuo e a segurança da planta.

2. Abrangência da Norma API 598

A norma API 598 define requisitos rigorosos para a inspeção, ensaio e aceitação de válvulas industriais, com foco na garantia de desempenho e segurança em aplicações críticas. Seu escopo cobre os principais tipos de válvulas, configurações de vedação e métodos de teste, aplicando-se a uma ampla variedade de cenários operacionais.

Tipos de válvulas:

  • Gaveta: Utilizadas para isolamento total, com movimento linear do obturador.
  • Globo: Indicadas para controle de fluxo, com excelente precisão na vedação.
  • Esfera: Proporcionam fechamento rápido e alta estanqueidade.
  • Macho (Plug): Semelhantes às válvulas esfera, porém com obturador cônico ou cilíndrico.
  • Borboleta: Compactas, leves e eficazes para grandes diâmetros com baixa perda de carga.
  • Retenção: Permitem fluxo unidirecional, evitando retorno do fluido no sistema.
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  • benefits of sanitary ball valves

Tipos de assento:

  • Metal-Metal: Alta resistência mecânica, tolera pequenos vazamentos dentro dos limites normativos.
  • Resiliente (elastômeros): Vedação estanque (zero vazamento visual), ideal para fluidos limpos e baixa pressão.
  • Cerâmico: Extrema resistência à abrasão e corrosão, recomendados para mineração ou produtos químicos agressivos.
  • Sedes duplas ou bi-direcionais: Garantem vedação em ambos os sentidos de fluxo, exigindo testes específicos nas duas direções.

Escopo da norma:

  • Inspeção Visual: Verifica integridade superficial, presença de trincas, rebarbas, porosidades e marcações obrigatórias (classe de pressão, material, etc.).
  • Testes de Pressão:
    • Corpo (Carcaça): Avalia a resistência mecânica e ausência de vazamentos externos.
    • Assento (Vedação): Confirma a estanqueidade do sistema de vedação principal.
    • Haste (Contravedação): Avalia a vedação do eixo ou haste sob pressão, inclusive em ciclos operacionais.
  • Ensaios Operacionais:
    • Hidrostático: Com uso de líquido pressurizado (água tratada ou óleo hidráulico).
    • Pneumático: Com gás (ar comprimido ou nitrogênio), mais sensível para detecção de microvazamentos.

3. Tipos de Testes Previstos para Válvulas Industriais

Os testes em válvulas industriais são essenciais para garantir conformidade com normas técnicas (como API 598, ISO 5208, ou ASME B16.34), segurança operacional e desempenho em condições críticas. Abaixo, detalhamos os métodos previstos, seus princípios técnicos e objetivos:

TesteDescrição TécnicaObjetivoNormas de Referência
Teste da CarcaçaAplica pressão hidrostática (geralmente 1.5x a pressão nominal) no interior do corpo da válvula, sem fluxo de fluido. Utiliza água ou óleo como meio de teste.Verificar a integridade estrutural do corpo, flangeamentos e soldas, assegurando ausência de vazamentos externos.API 598, ISO 5208
Teste de ContravedaçãoPressuriza a haste com a válvula em posição aberta, simulando condições dinâmicas de operação. Avalia o sistema de vedação (gaxetas ou O-rings).Garantir que não haja vazamentos na região da haste sob pressão, mesmo após ciclos repetitivos.API 598, API 624 (emissões fugitivas)
Teste de Fechamento à Baixa PressãoAvalia a vedação do assento (sede/obturador) com pressão de 4–7 barg no sentido inverso ao fluxo (ar ou água).Validar a estanqueidade em condições de pressão reduzida, crítica para serviços com fluidos leves (e.g., vapor).API 598, ISO 5208 Classe A
Teste de Fechamento à Alta PressãoTesta a vedação sob pressão equivalente a 1.1x a pressão máxima de trabalho (classe da válvula). Realizado com água ou fluido especificado.Assegurar que a válvula mantém estanqueidade em condições operacionais extremas (e.g., shut-off em emergências).API 598 (Classe IV/V)
Teste Pneumático da Carcaça (Opcional)Substitui o meio hidrostático por ar comprimido ou gás inerte (nitrogênio), com detecção por bolha ou ultrassom.Identificar microvazamentos (< 0.1 Ncm³/s) em válvulas para serviços com gases ou fluidos altamente voláteis.ISO 5208 (Método B) / ASME B16.34

4.Teste Hidrostático – Procedimento Técnico Detalhado

O teste hidrostático é um método essencial para validar a integridade estrutural e a estanqueidade de válvulas industriais. Segue um passo a passo técnico, com critérios normativos e boas práticas:


4.1. Preparação

  • Fixação da Válvula: A válvula é montada em um test bench com flanges de teste ou conexões adaptadas, garantindo alinhamento e vedação adequados.
  • Proteção contra Danos: Uso de juntas (gaskets) compatíveis com o fluido de teste e torque de aperto conforme ASME B16.5 (para flanges).

4.2. Enchimento

  • Fluido de Teste: Água tratada com inibidores de corrosão (pH 6.5–8.5) ou óleo hidráulico, conforme norma API 598.
  • Purga de Ar: O sistema é purgado para eliminar bolhas de ar, que podem comprometer a precisão do teste.

4.3. Pressurização

  • Gradualidade: A pressão é aumentada em etapas (ex.: 25%, 50%, 75%, 100% da pressão de teste) para evitar water hammer ou tensões abruptas.
  • Pressão de Teste:
  • Padrão: 1.5× a PN (Pressão Nominal) ou conforme classe da válvula (ex.: Classe 600 → 90 barg).
  • Tolerância: ±5% da pressão especificada (ISO 5208).

4.4. Retenção de Pressão

  • Tempo Mínimo:
  • Válvulas pequenas (≤ NPS 2”): 60 segundos.
  • Válvulas grandes (> NPS 24”): Até 5 minutos (API 598).
  • Estabilidade: A pressão deve ser mantida constante (±1% do valor alvo).

4.5. Inspeção

  • Vazamentos Externos: Nenhuma gota ou umidade é aceitável em juntas, soldas ou corpo.
  • Vazamentos Internos: Para testes de sede, tolerâncias são definidas por normas (ex.: ISO 5208 Classe A: 0 bubbles/min).

4.6. Despressurização e Drenagem

  • Controle: A pressão é reduzida gradualmente (evitar colapso por vácuo).
  • Secagem: Remoção completa do fluido para evitar corrosão residual (crítico para válvulas de aço carbono).

5Condições Típicas de Teste

ParâmetroHidrostático (Líquido)Pneumático (Gás)
FluidoÁgua + inibidor de corrosãoAr comprimido ou nitrogênio (N₂)
Pressão Máxima1.5× PN1.1× PN (ou 5.5 barg para segurança)
Tempo de Retenção15s – 5 min (tamanho-dependente)≥ 60 segundos
SensibilidadeDetecta vazamentos > 0.1 ml/minDetecta microvazamentos (< 0.01 Ncm³/s)

Diferenças Técnicas: Teste com Líquido vs. Gás

  1. Sensibilidade
  • Líquido: Identifica vazamentos visíveis (gotas ou bolhas em teste de imersão). Adequado para serviços não críticos (água, óleo).
  • Gás: Detecta vazamentos mínimos (via bubble test ou mass flow meter). Obrigatório para fluidos perigosos (gás natural, H₂, amônia).
  1. Segurança
  • Líquido: Mais seguro (fluido incompressível, baixo risco de explosão).
  • Gás: Exige zonas ATEX (atmosfera explosiva) e equipamentos à prova de faísca.
  1. Normas Aplicáveis
  • Hidrostático: API 598, ASME B16.34.
  • Pneumático: ISO 5208 (Método B), BS EN 12266-1.
  1. Aplicações
  • Gás: Válvulas para upstream (poços de petróleo), criogênicas (LNG), ou químicos voláteis.
  • Líquido: Válvulas para água, vapor, ou sistemas hidráulicos.

Notas Críticas

  • Pós-Teste: Inspeção visual complementar (LP/MPI) para descartar trincas induzidas por pressão.
  • Registro: Relatório deve incluir pressão, tempo, fluido, e taxas de vazamento (exigido por PED 2014/68/EU).

Esta abordagem assegura alinhamento com padrões internacionais e confiabilidade operacional em serviços críticos.

5. Taxas de Vazamento Permitidas – Padrões Técnicos e Critérios Normativos

A avaliação da estanqueidade em válvulas industriais é fundamentada em normas internacionais amplamente aceitas, com destaque para a API 598 (Valve Inspection and Testing), principal referência para válvulas utilizadas em setores como petróleo, gás e indústrias pesadas. Essa norma estabelece limites rigorosos de vazamento com base no tipo de assento (resiliente ou metálico) e no tamanho nominal da válvula, assegurando segurança operacional e desempenho otimizado em condições críticas.


Critérios Técnicos da API 598

  • Assentos Resilientes (Borracha, PTFE, NBR):
    • Exigência: Total ausência de vazamento (“zero leakage”) durante testes hidrostáticos ou pneumáticos, refletindo a necessidade de estanqueidade absoluta em serviços sensíveis.
    • Métodos de Verificação:
      • Teste Hidrostático: Nenhuma evidência de gotas ou umidade após 60 segundos de retenção sob pressão.
      • Teste Pneumático: Ausência de bolhas detectáveis em solução de sabão (aplicação direta ou imersão).
    • Aplicações: Ideal para válvulas soft-seated em serviços críticos, como fluidos corrosivos, água ultrapura ou processos farmacêuticos.
  • Assentos Metálicos (Aço, Inconel, Stellite):
    • Tolerância: Permitidos vazamentos mínimos, quantificados em mL/min (líquidos) ou bolhas por segundo (gases), devido às limitações inerentes a superfícies metálicas.
    • Fatores Influentes:
      • Rugosidade Superficial: Valores de Ra ≤ 0.8 μm são recomendados para classes de vazamento mais restritivas.
      • Compatibilidade Térmica: Diferenças de dilatação térmica em altas temperaturas podem afetar a estanqueidade.

Tabela de Taxas de Vazamento para Assentos Metálicos (API 598 – Tabela 5 Adaptada)

Tamanho Nominal (NPS)Taxa Máxima (mL/min) – Teste HidrostáticoEquivalente em Bolhas/segundo (Teste Pneumático)
≤ 2″0.08≤ 1 bolha/segundo (em solução de sabão, 3 segundos de observação)
2½” a 6″0.24≤ 3 bolhas/segundo
8″ a 12″0.48≤ 6 bolhas/segundo

Notas Técnicas:

  • Conversão mL/min ↔ Bolhas: Assume-se que 1 bolha ≈ 0.05 mL (varia com viscosidade e método de detecção).
  • Pressão de Teste: Valores aplicáveis a 1.1x PN (pressão nominal) para testes de sede.

Contexto de Aplicação e Exceções

Serviços Críticos: Em aplicações como gás natural (ANSI/API 6D), as taxas podem ser até 10 vezes mais restritivas (ex.: ≤ 0.01 mL/min para NPS ≤ 2″), devido aos riscos associados a vazamentos. Normas Alternativas:

  • ISO 5208 Classe A: Exige “zero leakage” para todos os tipos de assento, sendo mais rigorosa que a API 598.
  • ASME B16.34: Permite vazamentos proporcionais ao diâmetro nominal (ex.: 0.1 mL/min por polegada), oferecendo flexibilidade em serviços menos críticos.

Métodos de Medição

  1. Hidrostático (Líquido):
    • Coleta do vazamento em proveta graduada (precisão ±0.01 mL).
    • Uso de corante para facilitar visualização em fluidos claros.
  2. Pneumático (Gás):
    • Método da Bolha: Imersão em água + detergente (1 cm³ de solução por 100 mL de água).
    • InstrumentalMass flow meters (para gases tóxicos como H₂S) com sensibilidade ≤ 0.001 Ncm³/s.

Implicações Práticas e Regulatórias

Conformidade Regulatória: Atende a diretrizes como a PED 2014/68/EU (equipamentos sob pressão) e a EPA Method 21 (controle de emissões fugitivas), garantindo alinhamento com padrões de segurança e meio ambiente.

Manutenção Preditiva: Vazamentos próximos aos limites máximos indicam a necessidade de substituição de assentos ou retificação de superfícies, evitando falhas operacionais.

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