Split-Range Entendendo e Aplicando o Controle em Faixa Dividida

Um guia introdutório com dicas práticas para a filosofia de controle com válvulas em sequência.

Em alguns processos industriais, controlar o fluxo de um fluido com precisão ao longo de uma ampla faixa operacional pode ser um grande desafio — especialmente quando uma única válvula de controle não é suficiente para cobrir toda essa variação de forma eficiente. Nessas situações, uma estratégia bastante útil é o uso do controle em faixa dividida, mais conhecido como Split-Range.

Esse tipo de controle consiste em usar duas (ou mais) válvulas trabalhando em sequência, cada uma operando em uma parte específica do sinal de controle. O objetivo é garantir uma resposta mais adequada ao processo, ampliando a faixa de controle disponível e melhorando a estabilidade.

A filosofia de controle Split-Range (ou controle em faixa dividida) é uma estratégia amplamente utilizada na instrumentação e automação industrial para superar as limitações operacionais de uma única válvula de controle. Em essência, trata-se de dividir o sinal de controle de um único controlador em faixas distintas, cada uma destinada a atuar sobre válvulas diferentes, de forma coordenada e sequencial. Essa abordagem permite ampliar o alcance de controle, aumentar a precisão e adaptar o sistema a processos com ampla variabilidade de carga ou dinâmica não linear.

Exemplo prático de controle Split-Range em nosso cotidiano: Forno para assar frangos

Imagine um forno industrial para assar frangos, onde a quantidade de calor aplicada precisa variar muito ao longo do processo:

  • Na fase inicial de cozimento, quando há muitos frangos para assar, é necessário acionar duas válvulas de gás em sua capacidade máxima para gerar chamas mais intensa , calor intenso e rápido.
  • Após os frangos estarem assados, o objetivo passa a ser apenas manter a temperatura estável, para não queimar a carne, usando uma quantidade menor de calor ou seja, apenas uma válvula permanece ligada para manter o forno aquecido.

Neste cenário, não é eficiente usar uma única válvula que tente controlar o gás para todas as bocas de chama ao mesmo tempo ela teria dificuldade para operar bem em toda a faixa, porque:

  • Se for dimensionada para controlar o mínimo de gás (manutenção da temperatura), não conseguiria fornecer calor suficiente para o cozimento inicial.
  • Se for dimensionada para fornecer gás suficiente para todo o forno, não terá sensibilidade para controlar pequenos ajustes no modo “manter aquecido”.

Assim, a solução é usar controle Split-Range: duas válvulas (ou conjuntos de bocas de chama) são acionadas em faixas diferentes do sinal de controle:

  • Primeira válvula/bocas de chama: acionadas em baixa faixa do sinal para o modo de manutenção (calor baixo);
  • Segunda válvula/bocas de chama: entram em operação quando o sinal aumenta, fornecendo calor adicional para o cozimento inicial (alta vazão).

Dessa forma, o sistema consegue operar com eficiência tanto em regimes baixos quanto em regimes altos de calor, garantindo controle preciso e economia de energia.

Um outro exemplo clássico onde isso se aplica é o controle de pH, uma das variáveis mais difíceis de controlar em processos industriais. Isso acontece porque o pH possui uma escala logarítmica: uma mudança de apenas 1 unidade de pH representa uma alteração de 10 vezes na concentração de íons hidrogênio. Por exemplo, uma diferença de 3 unidades de pH (como de 10 para 7) significa uma variação de mil vezes na concentração!

Nesse cenário, o uso de válvulas em Split-Range permite uma atuação mais fina e progressiva do controle, garantindo melhores resultados mesmo em processos com comportamentos tão não lineares.

Por que usar Split-Range?

Existem situações em que uma única válvula de controle não consegue operar com desempenho satisfatório em toda a faixa de processo. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando:

  • A demanda de vazão varia de valores extremamente baixos a muito elevados;
  • O processo apresenta resposta altamente não linear, como no controle de pH, onde pequenas mudanças exigem ajustes finíssimos em certos pontos e grandes injeções em outros;
  • Deseja-se manter precisão em regimes baixos e capacidade em regimes altos, o que exigiria válvulas com características contraditórias.

Como funciona na prática?

No arranjo Split-Range, o controlador envia um sinal padrão (geralmente 4-20 mA ou 0-100%) que é dividido em faixas de atuação distintas para diferentes válvulas. Um exemplo típico seria:

  • Válvula A: atua de 4 a 12 mA (0 a 50% do sinal) – adequada para pequenas vazões com maior controle;
  • Válvula B: atua de 12 a 20 mA (50 a 100% do sinal) – projetada para atender grandes vazões com robustez.

Essas válvulas podem operar em sequência complementar, onde uma começa a abrir quando a outra já está próxima do limite, ou até em sobreposição parcial, caso se deseje transições mais suaves.

Aplicação do conceito no controle de processos: o Split-Range

Esse mesmo desafio de controlar uma variável em uma ampla faixa é comum em processos industriais, como o controle de pH ou de fluxo. Em muitas situações, uma única válvula de controle não consegue ajustar com precisão tanto fluxos pequenos quanto fluxos grandes.

A filosofia Split-Range resolve esse problema ao usar duas ou mais válvulas que atuam em sequência progressiva, cada uma cobrindo uma parte da faixa total de controle. A primeira válvula controla pequenos fluxos, com alta precisão, enquanto a segunda entra em ação conforme a necessidade de maior fluxo.

Dessa forma, o sistema consegue ampliar seu alcance operacional (rangeabilidade), garantindo um controle mais eficiente, estável e econômico.

Tabela de Sequenciamento de Válvulas de Ácido

Saída do Controlador (%)Saída I/P (PSI)Válvula de Ácido Pequeno (Posição do Atuador)Válvula de Ácido Grande (Posição do Atuador)
0%3 PSIFechadaFechada
25%6 PSIMeio-abertaFechada
50%9 PSITotalmente abertaFechada
75%12 PSITotalmente abertaMeio-aberta
100%15 PSITotalmente abertaTotalmente aberta

Explicação do Funcionamento:

  1. 0–25%:
    • Apenas a válvula pequena começa a abrir (meio-aberta em 25%), permitindo um controle preciso para pequenas correções.
  2. 50%:
    • A válvula pequena está totalmente aberta, maximizando sua capacidade sem acionar a válvula grande.
  3. 75%:
    • A válvula grande entra em ação (meio-aberta), enquanto a pequena permanece totalmente aberta para aumentar a vazão.
  4. 100%:
    • Ambas as válvulas estão totalmente abertas, garantindo vazão máxima quando necessário.

sequenciamento progressivo das válvulas de controle de ácido (pequena e grande) permite que o sistema alcance uma maior rangeabilidade, garantindo um controle preciso e eficiente do pH mesmo diante de condições de processo altamente variáveis.

Por Que Isso é Importante?

  • Rangeabilidade Ampliada:
    • válvula pequena atua em baixas vazões, proporcionando ajuste fino para pequenas correções de pH.
    • válvula grande entra em operação em demandas mais altas, garantindo capacidade máxima quando necessário.
    • Juntas, elas cobrem um espectro muito mais amplo de vazões do que uma única válvula conseguiria.
  • Controle Eficiente em Diferentes Cenários:
    • Em vazões baixas (ex.: pH levemente alcalino), apenas a válvula pequena opera, evitando sobredosagem.
    • Em vazões altas (ex.: neutralização rápida de um pH muito elevado), a válvula grande complementa o fluxo, garantindo resposta rápida.
  • Estabilidade do Processo:
    • A transição suave entre as válvulas (definida pela tabela de sequenciamento) evita oscilações bruscas, mantendo o pH estável.

Sistema de Controle de Nível em Caldeiras com Válvulas de Vazão Diferencial

Na imagem abaixo, observamos duas válvulas de controle de nível com capacidades de vazão distintas:

  • Válvula vermelha: maior capacidade de vazão (diâmetro nominal superior)
  • Válvula verde: menor capacidade de vazão (diâmetro nominal reduzido)

Funcionamento do Sistema:

Na imagem apresentada, temos a ilustração de duas válvulas responsáveis pelo controle de nível da caldeira. A válvula vermelha possui maior capacidade de vazão, enquanto a válvula verde tem uma menor capacidade de fluxo. O sistema de controle utiliza essas válvulas para regular o nível da caldeira de acordo com a demanda do processo.

Em condições normais de operação, a válvula de menor capacidade de vazão (verde) é suficiente para manter o controle adequado do nível da caldeira. No entanto, em momentos de maior consumo de água ou variações abruptas na demanda, essa válvula pode não conseguir suprir a necessidade de ajuste de nível de maneira eficiente.

Para compensar essa limitação e garantir um controle preciso, o sistema aciona automaticamente a válvula de maior diâmetro (vermelha), permitindo um aumento temporário da vazão e estabilizando o nível da caldeira conforme requerido pela operação. Esse funcionamento em conjunto garante maior eficiência e segurança no controle do sistema térmico.

Controle de nível em caldeiras – Dicas de Instrumentação

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